quarta-feira, 17 de junho de 2009

Melhores amigos


O primeiro boxerzinho estava nos esperando na caravan de meu pai, que disse para meu irmão e eu irmos buscar algo que havia ficado no carro. Chamou-se DRUG - que em russo significa AMIGO - favor não confundir com drogas, ok? Furava todas as nossas meias quando se pendurava em nossos pés, roubava sapatos (mas aprendemos rápido a deixá-los fora de alcance), arrancava roupa do varal e sabia direitinho que não devia fazer nada disso, porque bastava chegarmos em casa e colocarmos o carro na garagem para ele se esconder debaixo do passatão azul de minha mãe, onde se achava inalcançável para a merecida bronca.
E babava. Como babava. Adorava passear, bastava pegarmos a guia para ele correr em disparada entre o portão de casa e nós, ida e volta, até que - na visão dele - depois de horas nós finalmente chegávamos até o portão.
Adorava vigiar minha mãe quando ela cozinhava, sabia que sempre sobraria algo para ele. Viajou conosco diversas vezes para Peruibe, sempre numa casa alugada diferente. E adorava que minha mãe não tinha problemas para acordar de madrugada e ir com ele para a praia - ele teve a sorte disso ainda não ser proibido naquela época. Corria como se a vida dele dependesse disso, dava altos pinotes, fazia curvas enlouquecidas, derrapava. Cavocava a areia como se quisesse chegar à China, mas não era muito íntimo da água não... Aliás, uma leve garoa já fazia com que se refugiasse no lugar coberto mais próximo. Uma vez atropelou minha mãe, derrubando-a. Ai ela aprendeu que não devia se mexer quando ele, com aquelas bochechas todas balançando, vinha à galope em sua direção - ele sempre desviava na última hora, foi ela quem tinha resolvido desviar para o mesmo lado que ele...
Uma criança em Peruibe nos parou na rua uma vez para perguntar de que marca ele era e "o que é isso que ele tem pendurado ai", referindo-se às enormes bochechas pretas.
Aqui já não lembramos mais se o episódio da cebola foi com Drug ou com o filho dele, Graf (barão, novamente em russo e tb em alemão) - tivemos geração após geração, sempre ficamos com um dos filhotes.
Minha mãe cortava carne e dava as rebarbas para o cachorro. Um, dois, três, quatro bocados. Eles sempre engoliam isso tão rápido que a nossa sensação era que eles não poderiam nem sequer sentir o gosto do que estavam comendo. Engano nosso: depois do quarto bocado de carne minha mãe jogou um pedaço de cebola. Ele abocanhou e cuspiu tão rápido como tinha pego. Minha mãe morreu de rir. Na hora e depois, contando para a gente.
Morreu velinho, do jeito que os cachorros gostam de fazer. Havia um pedreiro trabalhando em casa, o portão estava aberto. Drug saiu, afastou-se um pouco da casa, deitou tranquilo e não levantou mais. Deixou boas lembranças e seu filho Graf.

Drug tinha uma estrela no peito. E pêlos brancos na cara, todo um senhor.

A intenção era ensinar ele a sair pela escada, caso caísse na água sem nossa presença. Mas o desespero apenas o levava em direção à borda. Por sorte sempre estivemos em casa quando algum cachorro meio bêbado caía na água de madrugada.

E era cantor, lá do jeito dele...

Mas não era pela cantoria que tinha fãs, era puro carisma mesmo.


Essas fotos são fotos de fotos... não tão boas para ampliar.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Passe adiante

Copiando na cara-dura, porque há coisas que DEVEM ser copiadas, espalhadas, divulgadas, multiplicadas. Como essa.

Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.

"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

Passe adiante! Precisamos começar já!
Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta aonde vive...


Hundido?

29 de dezembro de 2008, Puerto Madero - Buenos Aires
No canteiro de obras onde estão "brotando" várias torres foram descobertos restos arqueológicos de uma embarcação.

Hoje
Após cinco meses de escavações, recuperaram-se potes de cerâmica, 4 canhões de 1 tonelada cada, 2 moedas espanholas, roldanas, muitos metros de cordas de diversas espessuras, uma madeira entalhada, 12 toneladas de lastro e muitas dúvidas.
Supõe-se que seja um barco mercante espanhol, supõe-se que encalhou num banco de areia e sofreu avarias que não tornavam viável o reparo, supõe-se que fazia também a rota comercial a Cuba, supõe-se que levava cerca de 100 tripulantes, supõe-se, supõe-se, supõe-se.
As escavações já terminaram. Foram feitas a toque de caixa, em poucos meses algo que normalmente levaria anos. Esse achado está em propriedade privada, a obra tem que continuar. Durante esse mês de junho de 2009 o local está aberto à visitação pública. Depois, o barco será retirado de lá para ser novamente enterrado. A luz e o ar estão deteriorando as madeiras. Enquanto não se estudar uma forma de conservá-lo, ficará enterrado.
Estive lá ontem, ADOREI a visita guiada. A guia (Alejandra) está super entusiasmada. Ela, todo o grupo de arqueólogos e estudiosos, os demais guias, o governo da cidade. Não é para menos. Numa cidade e um país que como tantos outros recém agora começa a valorizar seus prédios históricos e cultura do passado um achado desses é muito significativo.
O canal National Geographic foi convidado para registrar os trabalhos de escavação, os estudos, as visitas. Assim fica tudo documentado para o público.
Alejandra n
os contou sobre a época, sobre o leito original do Río de la Plata, sobre a dimensão que se planejava que a cidade tivesse, o comércio, a construção dos portos e muito mais. Foi uma deliciosa tarde de passeios, onde também conheci duas belíssimas praças do bairro Puerto Madero que até hoje tinham passado batido para mim. Sobre elas falo mais tarde.
durante o fim de semana passado, que foi o primeiro aberto à visitação, atenderam mais de 1500 pessoas. Em grupos de 15, por questões de segurança. Em 7 guias. Mais de 10 grupos por cada, com duração de 20 minutos. Affff! Ontem tive o prazer de uma visita de quase uma hora de duração, já que em dias de semana o fluxo de visitantes é reduzido (por questões óbvias). Recomendo.
Para agendar a data e o horário de sua visita, clique aqui. E aproveite muito.

Fotos? No site da NatGeo. É proibido fotografar no local... Abaixo algumas antes de começar e depois de terminar a visita.

Essas duas tirei enquanto estava sentada esperando que se forme o grupo e que os demais dois terminem sua volta.

Os capacetes amarelos são um grupo que escuta as explicações históricas vendo os painéis antes de entrar ao canteiro de obras e ver o barco.

E essa foi tirada da rua, depois de terminar. De blusa vermelha e capacete, atrás do alambrado, está Alejandra, nossa guia.

Clique nas imagens para ampliar