O primeiro boxerzinho estava nos esperando na caravan de meu pai, que disse para meu irmão e eu irmos buscar algo que havia ficado no carro. Chamou-se DRUG - que em russo significa AMIGO - favor não confundir com drogas, ok? Furava todas as nossas meias quando se pendurava em nossos pés, roubava sapatos (mas aprendemos rápido a deixá-los fora de alcance), arrancava roupa do varal e sabia direitinho que não devia fazer nada disso, porque bastava chegarmos em casa e colocarmos o carro na garagem para ele se esconder debaixo do passatão azul de minha mãe, onde se achava inalcançável para a merecida bronca.
E babava. Como babava. Adorava passear, bastava pegarmos a guia para ele correr em disparada entre o portão de casa e nós, ida e volta, até que - na visão dele - depois de horas nós finalmente chegávamos até o portão.
Adorava vigiar minha mãe quando ela cozinhava, sabia que sempre sobraria algo para ele. Viajou conosco diversas vezes para Peruibe, sempre numa casa alugada diferente. E adorava que minha mãe não tinha problemas para acordar de madrugada e ir com ele para a praia - ele teve a sorte disso ainda não ser proibido naquela época. Corria como se a vida dele dependesse disso, dava altos pinotes, fazia curvas enlouquecidas, derrapava. Cavocava a areia como se quisesse chegar à China, mas não era muito íntimo da água não... Aliás, uma leve garoa já fazia com que se refugiasse no lugar coberto mais próximo. Uma vez atropelou minha mãe, derrubando-a. Ai ela aprendeu que não devia se mexer quando ele, com aquelas bochechas todas balançando, vinha à galope em sua direção - ele sempre desviava na última hora, foi ela quem tinha resolvido desviar para o mesmo lado que ele...
Uma criança em Peruibe nos parou na rua uma vez para perguntar de que marca ele era e "o que é isso que ele tem pendurado ai", referindo-se às enormes bochechas pretas.
Aqui já não lembramos mais se o episódio da cebola foi com Drug ou com o filho dele, Graf (barão, novamente em russo e tb em alemão) - tivemos geração após geração, sempre ficamos com um dos filhotes.
Minha mãe cortava carne e dava as rebarbas para o cachorro. Um, dois, três, quatro bocados. Eles sempre engoliam isso tão rápido que a nossa sensação era que eles não poderiam nem sequer sentir o gosto do que estavam comendo. Engano nosso: depois do quarto bocado de carne minha mãe jogou um pedaço de cebola. Ele abocanhou e cuspiu tão rápido como tinha pego. Minha mãe morreu de rir. Na hora e depois, contando para a gente.
Morreu velinho, do jeito que os cachorros gostam de fazer. Havia um pedreiro trabalhando em casa, o portão estava aberto. Drug saiu, afastou-se um pouco da casa, deitou tranquilo e não levantou mais. Deixou boas lembranças e seu filho Graf.
Drug tinha uma estrela no peito. E pêlos brancos na cara, todo um senhor.
A intenção era ensinar ele a sair pela escada, caso caísse na água sem nossa presença. Mas o desespero apenas o levava em direção à borda. Por sorte sempre estivemos em casa quando algum cachorro meio bêbado caía na água de madrugada.
E era cantor, lá do jeito dele...
Mas não era pela cantoria que tinha fãs, era puro carisma mesmo.
A intenção era ensinar ele a sair pela escada, caso caísse na água sem nossa presença. Mas o desespero apenas o levava em direção à borda. Por sorte sempre estivemos em casa quando algum cachorro meio bêbado caía na água de madrugada.
E era cantor, lá do jeito dele...
Mas não era pela cantoria que tinha fãs, era puro carisma mesmo.
Essas fotos são fotos de fotos... não tão boas para ampliar.
2 comentários:
Que viagem no tempo. Valeu.
Incríveis bichos!
Beijo do velho
Taubrós!?
Adorei as fotos, hehehe. I´m a cat person, though. ^^
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